Bom dia!
Estava pesquisando assuntos acerca de perdas e de como saber entendê-las e encontrei este material de
Maria José Gomes S. Nery – Psicóloga Clínica publicado no site da PSIQWEB do Dr. Geraldo Ballone. Para você ler o conteúdo original, basta clicar no título acima, ok?
"Muitas
situações na vida nos trazem a sensação de um mal irreparável,
geralmente envolvendo perdas ou grandes mudanças: doenças, morte de
alguém, mudança de cidade, de emprego, condição social, separação, perda
de um sonho ou ideal e outras. As situações mais dolorosas referem-se à
perda de um ente querido.
As pessoas ficam com a sensação de terem
sido roubadas em algo a que tinham direito. Passam por um processo
doloroso que envolve sofrimento, medo, revolta, raiva, culpa, depressão,
isolamento, desinteresse pelas atividades costumeiras ou excesso de
atividades (fuga); apresentam sintomas físicos e psicológicos de
estresse, podendo até vir a adoecer.
O tempo requerido para o “luto”
(fase de maior sofrimento) e a maneira de vivê-lo depende muito das
circunstâncias da perda, o significado desta para a pessoa, seu modo
particular de lidar com situações de crise, apoio disponível no seu meio
familiar e social, como a comunidade onde vive encara esta perda, suas
próprias crenças e outros aspectos.
A recuperação de uma perda
significativa leva de alguns meses a dois anos e, mesmo aí, alguns
aspectos podem continuar não muito bem resolvidos.
Mas, além da
tristeza, as situações dolorosas podem fazer com que descubramos em nós
mesmos forças antes desconhecidas, faz com que repensemos nossas vidas e
nossos valores, passando a perceber o que realmente é importante e o
que é supérfluo, e podem nos transformar em pessoas mais ricas
espiritual e emocionalmente.
Apesar das pessoas sentirem e reagirem
diferentemente, existem pontos em comum nas situações de perda, quando
geralmente passam por fases semelhantes. Quando descobrem que estão com
uma doença grave ou isto acontece com uma pessoa muito próxima, a morte
inesperada de alguém que amam, ou com quase todos os outros tipos de
perda, primeiro passam pelo estágio de choque e negação, não querendo
acreditar na realidade. Depois vem a fase da raiva, revolta (contra
tudo, todos e até contra Deus) e muita mágoa. Mais tarde passam a
negociar com Deus e com a vida, tentando fazer trocas e promessas;
depois ficam deprimidos, perguntando-se “por que eu?”, “por que ele(ou
ela)?”ou “por que comigo(ou conosco)?”.
A seguir a tendência é
retrairem-se por algum tempo, afastando-se dos outros, enquanto buscam
alcançar um estado de entendimento, paz, aceitação; de aceitar aquilo
que não pode ser mudado.(E. Kubler-Ross). Muitos param em determinada
fase e não vão adiante na superação da perda que já aconteceu ou, no
caso de doença, vai ocorrer; alguns pulam de uma fase para outra,
podendo retornar à fases anteriores; outros caminham para a superação.
Isto vai depender muito do suporte que recebem do meio, dos amigos, de
terapeutas ou orientadores; do entendimento que têm sobre a vida e sua
finalidade, de suas crenças filosóficas e/ ou religiosas e outros
aspectos.
A Dra Ross estudou também 20 mil casos de pessoas de várias
culturas que passaram por experiências de quase morte(EQM), e notou
muita semelhança no que percebem naqueles momentos de “morte”, as
vivências e sensações são agradáveis e os pacientes percebem que na
realidade a morte não existe, é uma passagem para um plano de vida
diferente, como a borboleta que deixa o casulo.Se começarmos a ver a
vida de maneira diferente, com maior entendimento, veremos que a morte
jamais deve representar sofrimento, mas uma continuação da vida e da
evolução.
Seguem-se algumas sugestões que podem ajudar nesta fase difícil :-
1-Fale sobre sua perda e sua dor
Nos
primeiros meses muitos têm esta necessidade, deixe que os outros saibam
que este assunto não deve ser evitado e que lhe faz bem falar sobre
isto, abrir-se com alguém de confiança, ajuda no entendimento e na
aceitação. Quando os amigos entendem o processo, percebem que ouvindo e
compartilhando o sofrimento, estão ajudando; e você vai se sentir melhor
desabafando. Entretanto, em algumas situações, ou com algumas pessoas,
quando não quiser falar sobre o assunto, também diga isto claramente.
2-Enfrente o sentimento de culpa
Quando
se perde alguém importante é difícil sentir que se fez o bastante.
Discutir este sentimento com alguém compreensivo e de confiança vai
ajudar a distinguir a culpa real e irreal e, aos poucos, esta começa a
diminuir. Não pode se sentir responsável por não prever os
acontecimentos, ou culpa como se tivesse tido a intenção de prejudicar
alguém. Além do mais, temos que aceitar a realidade de que ninguém é
perfeito, fazemos o possível de acordo com nossa capacidade.
3-Trabalhe os sentimentos de raiva e revoltaEstes
sentimentos existem em face de uma grande perda; é importante
percebê-los e expressar os sentimentos de raiva e amargura. Não adianta
negá-los ou envergonhar-se deles, são normais e irão desaparecendo com o
tempo e a aceitação do fato.
4-Idealização
Há
uma fase em que a pessoa pensa em suas falhas como pai, mãe, filho,
cônjuge, irmão, namorado ou amigo... e vê a pessoa que se foi como um
ser perfeito. Com o tempo, começará a vê-la como um ser humano real, com
suas qualidades e defeitos, assim como todos nós.
5-Não se isole
Mesmo
que não se sinta à vontade para compartilhar seu sofrimento e prefira
ficar sozinho, precisa buscar a companhia de outras pessoas. Amigos e
familiares que o estimem podem ajudar muito. Não se esqueça que não está
só; muitos o estimam, querem lhe dar amor e conforto, assim como
precisam do seu amor e atenção. Isto consola , renova suas forças e
ajuda na construção de novos objetivos e, com o tempo, a recuperar a
alegria de viver. Estas pessoas podem fazer muito por você e você por
elas.
6-Mudança de valores
Diante da morte ou de
uma grande perda, a pessoa tende a repensar seus valores, a reavaliar
seus objetivos de vida; deixar de lado coisas que anteriormente
valorizava e que agora percebe que são insignificantes e/ou fúteis, e a
valorizar aspectos que percebe serem realmente mais importantes. Muitas
vezes implementa mudanças positivas na sua maneira de ser e de viver,
tornando-se menos preocupada com o ter e mais com o SER, evoluindo
moral, emocional e Espiritualmente.
7-“Nunca mais serei o mesmo”...
É
freqüente haver um grande sofrimento neste pensamento que pode ser
real, mas isto não significa que nunca mais possa ser feliz. Embora esta
idéia possa parecer inaceitável no período do sofrimento, as
transformações podem nos enriquecer. Geralmente é isto que acontece,
quando a pessoa aceita trabalhar e superar a fase de mágoa e revolta,
decidindo que pode e deve viver o melhor possível.
8-Evite decisões importantes ou grandes mudanças
O
primeiro ano após a perda, geralmente não é um período adequado para
tomar decisões importantes ou fazer grandes mudanças, a menos que as
circunstâncias o exijam. Uma pessoa amargurada tem a capacidade de
julgamento diminuída. Se algumas mudanças forem necessárias e
inadiáveis, peça a ajuda de alguém competente e não envolvido
emocionalmente com os problemas.
9-Reserve períodos e local para lembranças
Não
fique o tempo todo pensando e vendo objetos da pessoa que se foi.
Coloque alguns pertences dela numa caixa ou armário, não os deixe
espalhados.Tente reservar algum período específico do dia (no início),
da semana ou do mês, para pensar na pessoa e no seu luto, quando também
poderá rever os objetos. Evite fazer isto o resto do tempo, pois nada de
bom e útil se consegue com a tristeza contínua. Para algumas pessoas
isto não é fácil de conseguir, mas é necessário à sobrevivência e
recuperação.
10-Prevendo dias e datas difíceis
É
útil saber que vai sentir-se mais triste, solitário e infeliz em certos
dias e datas do que em outros, isto mesmo após já ter-se passado algum
tempo e com a vida mais estabilizada. Estes dias especiais geralmente
envolvem datas de aniversário, Natal, passagem de ano, Páscoa e outros,
onde a falta da pessoa se faz mais presente. Planeje passá-los com
amigos ou familiares, pois é provável que fique mais triste, choroso e
deprimido que em outras ocasiões. Não se isole, é bom que esteja em
companhia de pessoas que o estimem.
11-A crença de que a vida transcende nossa estada na terra e num Ser Superior
Desde
a antiguidade, a maioria dos povos de todas as regiões do globo,com
culturas e religiões diferentes, acredita na imortalidade da alma ou
espírito e na existência de um Deus ou “Algo Superior”. Isto é quase que
uma intuição que nascemos com ela. Um Ser com Amor Incondicional e
Sabedoria, perfeito e justo, não castiga as pessoas, mas sempre quer o
seu bem, sua evolução, mesmo que muitos de nós ainda não tenhamos a
capacidade para entender o porquê de muitos acontecimentos. Hoje, mais
do que nunca, temos tido provas da imortalidade do espírito e de que
tudo na vida tem um propósito positivo, que nada acontece por acaso.
Mesmo que não seja religioso, esta crença traz consolo. Pensar que a
pessoa não acabou, mas apenas deixou seu corpo e transferiu-se para um
tipo de vida diferente, em outro plano, faz com que as pessoas sintam-se
melhor diante da perda; e significará que a separação é temporária,
não definitiva.
É importante saber que pudemos desfrutar da companhia
de algumas pessoas especiais, mesmo que por breve tempo, que nos
deixam muita saudade...Só se tem saudade daquilo que foi muito bom..
12-Culpa por sentir-se bem
É
comum as pessoas não se permitirem alegria após uma grande perda, não
aceitando convites de amigos, ou evitando atividades agradáveis. Não
lute para continuar sendo ou parecendo infeliz. Perceba que sentir-se
contente, ter novos objetivos, não é deslealdade nem significa que não
ama ou está esquecendo o ente querido. Conseguir prazer em algo
significa que está trazendo um pouco de alívio ao seu sofrimento;
retomando ou recomeçando a construir sua vida. Além disso, se a pessoa
que se foi o estima, com certeza gostaria de vê-lo bem e não sofrendo,
preferiria vê-lo contente e isto lhe daria mais tranquilidade. Procure
investir em seu bem estar, engajando-se em atividades produtivas e que
lhe são agradáveis, e poderá tornar sua vida melhor ainda do que antes,
se aprendeu algo com o acontecido, se cresceu com o sofrimento e
compreensão do que é realmente mais importante na vida.
13-Reajuste-se à vida e ao trabalho
Tirar
alguns dias ou semanas para reequilibrar-se e, depois, uma folga
ocasional, quando necessário, é perfeitamente normal. Mas as atividades
devem ser retomadas assim que for possível, pois são importantes no
processo de recuperação. Seja paciente consigo mesmo, porque nos
primeiros meses sua capacidade física e mental podem não ser as mesmas.
Deve diminuir sua carga horária ou o número de atividades, se sentir que
é excessiva; mas a inatividade prolongada faz as pessoas repetirem ou
prolongarem a fase depressiva sem nenhum benefício. Com o tempo poderá
também perceber que é importante utilizar um pouco da sua energia em uma
atividade que possa ajudar outras pessoas e/ou instituições, saindo um
pouco de seu pequeno mundo e percebendo a importância e bem estar que
traz ajudar ao próximo, de conseguir tornar outros um pouco mais felizes
e menos carentes física e psicologicamente.
14-Liberte-se de expectativas irreais
Acreditar
que a vida deveria ser diferente, não envolvendo escolhas dolorosas,
sofrimentos e perdas é irreal e só traz revolta, o que só prejudica.
Tornando nossas expectativas quanto a nós mesmos, aos outros e à vida
mais realistas, fica mais difícil nos frustrarmos e mais fácil nos
adaptarmos. Ninguém passa por situações que não mereça, por puro acaso;
nem enfrenta uma carga maior do que a que tenha capacidade para
carregar. Saber que não vivemos num mundo desorganizado e que existem
leis universais, “nada acontece por acaso”; tudo tem uma razão de ser
justa e produtiva, nos leva a encarar os acontecimentos (com relação a
nós e aos outros envolvidos), mesmo os mais difíceis, como oportunidades
de aprendizagem e crescimento.
15-Integrando a perda
As
pessoas não “têm” que ser “vítimas”, qualquer que seja a perda, por
pior que tenha sido. Situações de muito sofrimento podem ser
transformadas em aprendizado. É preciso deixar de lado as perguntas
centradas no passado (que é imutável) e no sofrimento (“Por que isso
aconteceu comigo”?) e começar a fazer perguntas que abrem as portas para
o futuro:- “Agora que isto aconteceu o que posso e devo fazer? O que
posso aprender com isto? O que posso fazer para Ser e sentir-me melhor?”
Geralmente quando chegamos à fase da aceitação, atingimos a compreensão
e crescemos com a experiência, a dor se vai. Fica a saudade de uma
pessoa com a qual convivemos e que nos proporcionou bons momentos e
ensinamentos, tanto com suas qualidades, como com seus defeitos; com a
qual compartilhamos uma parte de nossa vida. Só se tem saudade de algo
que foi bom ou nos trouxe algo de positivo. Deve ser mais triste não ter
de quem sentir saudade, seja de uma pessoa deste ou de outro plano.
16-Pesar excessivamente longo
Quando
um sofrimento excessivo consome alguém por mais de um ano, geralmente o
problema principal não é a perda em si, mas algum outro aspecto que
precisa ser entendido. Muitas vezes isto ocorre quando havia uma
dependência excessiva em relação à pessoa que se foi, quando a culpa por
algum motivo é um componente muito forte na situação, problemas
emocionais pessoais ativados ou reforçados pela perda ou outras razões
significativas. Amigos, conselheiros ou um psicólogo podem ser
necessários neste caso.
17-Procure ajuda profissional, se necessário.
A
maioria dos que procuram ajuda de psicoterapeuta não são doentes
mentais, são pessoas comuns enfrentando problemas, passando por uma
crise e muitas delas sofrendo uma perda. Um profissional da área é
alguém com quem você pode dividir seu sofrimento, sua revolta, seu medo,
suas lembranças dolorosas, sua culpa e seus conflitos; que pode
compreendê-lo e ajudá-lo. As sessões de terapia podem ajudá-lo também a
tomar decisões práticas que o farão sentir-se melhor. Você pode precisar
de apenas algumas sessões, muitos meses para superar a fase mais
difícil, ou mais tempo; tudo vai depender do significado individual da
perda, da maneira como reage às crises e à terapia.
No início do
pesar, uma das formas mais comuns de manifestar o sofrimento é resistir a
crescer com ele. A vida pode ser prejudicada ou fortalecida por uma
perda. Ninguém permanece o mesmo. Cada situação é única e só a própria
pessoa pode buscar e encontrar respostas relativas ao “outro eu” e à
outra vida que vão emergir.
Cada pessoa decide se vai ou não crescer com essa experiência dolorosa , e quando.
Maria José G. S Nery- Psicóloga Clínica
Psicoterapia Cognitiva, Transpessoal e Regressiva
Postado por
FabricioMenezes
às
09:05
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